As artes “perfomativas” são, desde há séculos, o alimento das almas e contributo para a cultura. Teatro, música, bailado, ópera têm sido matéria constante de grandes ambições, grandes realizações, grandes frustrações. Não há sociedade, mais rica ou mais pobre, que não procure essas artes para usufruto próprio, para consolo da alma, para aumentar a sua riqueza cultural, para, enfim, poder ser mais feliz.
Quando tudo isto existe ou se pode desejar que exista, ou se pretende aumentar o que está disponível, interrogamo-nos sempre como fazê-lo. É a velha e eterna discussão de quem pode ou deve fazer com que a arte (neste caso a dos palcos) aconteça. Ou os governos, ou os privados, fundações ou instituições mais diversificadas. Investir em arte não é propriamente o terreno ideal para estudos de viabilidade económica sustentada, certinha ou quase garantida. Não é o mesmo que construir um imóvel de habitação ou uma unidade industrial com o conhecimento prévio das procuras e das receitas daí decorrentes. As artes incluem um enorme fator de imprevisibilidade porque se baseiam numa coisa muito simples mas, ao mesmo tempo, muito complexa, que é a adesão das pessoas. A disponibilidade social, financeira, cultural das sociedades poderão garantir o indispensável retorno para esses investimentos? Como se sabe é difícil. Não basta criar as salas, os locais, é preciso que se ponha e crie vida lá dentro, que as pessoas estejam motivadas a comparecer, a desfrutar e, dessa maneira, a viabilizar o empreendimento.
Há muitos exemplos de sucesso em todo o mundo, mas há muitos mais de insucessos que são, infelizmente, quase ignorados. Por tudo isto achei oportuno pegar num interessante artigo sobre o Teatro Nacional de Londres até há pouco gerido por Sir Nicholas Hytner. A sua direção do Teatro Nacional teve lugar entre 2003 e 2015 e, durante todo esse período, teve a enorme capacidade de enfrentar as tremendas dificuldades daquele projeto promovendo peças que, segundo opiniões abalizadas, “mudaram vidas”. O Teatro Nacional de Londres foi criado em 1963 sob a direção de Laurence Olivier tendo-se mantido, desde aí, como um polo de cultura elitista, bilhetes caros para uma audiência muito conservadora. O financiamento público era cerca de 40% das suas receitas anuais de, aproximadamente, 47,8 milhões de Euros (preços atuais). Nicholas Heytner arriscou uma mudança fundamental, propondo e montando peças antigas e novas, sérias ou irreverentes, de modo a dar a “toda a gente uma agradável diversão”.
Ao abandonar este cargo Sir Nicholas já tinha posto em palco 100 peças teatrais, a preços razoáveis e com aceitação generalizada do público. As suas receitas anuais passaram para cerca de 151 milhões de Euros com uma participação pública da ordem dos 15%.
No que respeita a investimento para as artes a Grã Bretanha está no meio caminho entre os Estados Unidos e a Europa. Nos Estados Unidos o apoio e adesão privados são muito elevados, na Europa persiste a vocação da importante participação pública.
No meio de todo este percurso Heytner produziu espetáculos inesquecíveis que exportou para todo o mundo e se mantiveram em palco dezenas de anos. Foi o caso de “War Horse” (Cavalo de Guerra) que, depois da sua estreia em 2007 em Londres, foi representada em Nova Iorque, Berlim, Amsterdão, Pequim, Cidade do Cabo, por toda a América e Austrália.
As histórias culturais dos países diferem, claro, e as suas dimensões condicionam fundamentalmente a atratividade e as receitas. Mas muitas vezes tenho sugerido a grandes amigos meus que se atrevam a promover espetáculos abrangentes, sérios, claro, mas mais próximos do público, não só do público mais conhecedor das obras, mas também do outro que as conhece menos bem mas que, se para tal for seduzido, se apaixonará da mesma maneira e participará na cadeia de promoção que tanta falta faz. Há que reconhecer que as nossas artes de palco têm evoluído muito. Muito bom trabalho se tem feito e está a ser feito em Portugal. É preciso divulgá-lo, dizer bem quando se tem que dizer bem e não menorizar iniciativas por vezes com enormes méritos. É preciso levar as pessoas aos teatros, incluindo os turistas que nos visitam, pois essa é uma fonte de receita importante. E se os artistas portugueses são bons porque não há-de isso acontecer?
Sir Nicholas Heytner abandonou o Teatro Nacional de Londres mas está a desenvolver um projeto importantíssimo de um novo espaço teatral em Londres, com 900 lugares, nas margens do Tamisa, que será inaugurado em Outubro próximo. Será o primeiro teatro a ser inaugurado em Londres desde 1930. Por alguma razão o escolheram para este empreendimento fundamental.
A gestão dos palcos tem variadíssimos condimentos e não é, decerto, uma missão fácil. Bem pelo contrário, envolve conhecimentos profundos de artes, de sociedades, de instituições, de mundo.
Aproveito o ensejo para relembrar o importante investimento que se aproxima, em Portugal, com a obrigatória realização do Festival da Canção Europeia em 2018. Obrigação em boa hora conquistada pelo recente e extraordinário desempenho do nosso representante, Salvador Sobral, no Festival de Kiev. É fundamental reconhecer a grande operação que deve ter sido montada para o sucesso daqueles momentos únicos, mas nada teria resultado sem o talento da canção e do cantor. E da lição que ali se deu em português. Somos capazes de fazer aquilo e faremos muito bem no próximo ano, estou certo. E se somos bons a fazer tudo isto também podemos melhorar as nossas paixões pelas artes de palco. Porque pela inundação de concertos já está quase tudo feito.
Um assunto muito interessante! O teatro, essa arte que há muito nos passa quase que despercebido no nosso dia a dia. Aos porquês, talvez não saibamos responder, sem entrar em polémica. Teatro revolucionário, com o calor do desespero e da revolta ? O fervor patriótico ? Uma ova !Teatro baseado em obras mais que lidas ? Teatro musicado, reproduzidos de filmes enfadonhos, mais que gastos ? Sinceramente, desconheço a razão porque deixei de ir ao teatro. Talvez, um certo desinteresse pelos temas, demasiado magros de interesse. Talvez, a própria pobreza do neo teatro português, não tenha cativado o meu interesse e curiosidade E não é pela falta de actores…! Disso tenho a certeza ! Actores muito bons ! E do saudoso Teatro Monumental, muita obra foi vista e aplaudida..! Do Teatro da Trindade, lembro-me bem das companhias brasileiras, que vinham a Lisboa, despejar toda a sua arte de representar, e nos influenciou pela naturalidade com que representavam. E aqui, quero esquecer o ” Fogo no Pandeiro, por razões óbvias…! E o nosso teatro clássico do D. Maria ll ? O teatro sério, que nos envolvia e nos deixavam extasiados, como ” Esta noite choveu prata ” ? Quase que um monologo que nos prendia ao palco, com redobrada atenção, ” As mãos de Abraão Zacut ” , ou ainda ” As árvores morrem de pé “. Que belíssimos momentos…! Depois, a facilidade de irmos a Londres, em aviões charter da Danair, num fim de semana, ver o outro teatro musicado. Originais, como “Jesus Cristo Super Star ” , ou ” Hair ” , com aquela sublime sensação de cheirar a novo ! Tema de tantas reuniões e conversas entre amigos…! Lamento, de não me ter dado ao prazer de ver ” Os Miseráveis “, cuja melodia nos surpreende pela beleza e reflecte o dramatismo dos romances de Victor Hugo. Do pouco, que por cá ainda se faz, temos a sorte de existir um Filipe La Féria, que minimaliza toda a nossa pequenez a que ficámos submetidos…! Mesmo assim, não tenho ido ao teatro ! Mas, não nos podemos exasperar, porque de música, parece que muito temos para mostrar. E esta coisa de amar a dois..! Bom ! Isso é outra conversa, que nos irá levar bem alto, estou certo disso…! Pensando bem, nem tudo corre mal !
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