Estamos em Guerra?

As nossas gerações viveram ou passaram por um número desmedido de guerras convencionais.   De uma forma geral afastadas do nosso retângulo europeu mas, normalmente, com efeitos profundos nas vidas das nossas populações. As chamadas primeira e segunda guerras mundiais  varreram o continente europeu com o sacrifício de milhões de vidas. Portuguesas também. Entretanto, em continentes mais afastados, desencadearam-se guerras tremendas com implicações próximas de países nossos aliados, como a França, os Estados Unidos, a Grã-Bretanha, que não deixaram de nos influenciar durante décadas. Tivemos, depois, as nossas malfadadas guerras coloniais em que muitos portugueses morreram e muitas famílias foram afetadas ou dizimadas. As duas últimas décadas do século passado foram de maior tranquilidade aparente. Os continentes de maior progresso, num dos quais nos incluímos,  conheceram um certo fulgor de desenvolvimento pacífico mas que encobria, segundo muitos filósofos e intelectuais da época, uma certa sobranceria e desdém por tudo o que se passava noutras regiões.

E tinham razão. De repente, o chamado ocidente acordou  atormentado por múltiplos ataques , vindos não se sabia de onde, que colidiam com as vidas organizadas , mais ou menos democraticamente, mas pretendendo salvaguardar a paz e o bem estar social. Foi o fim do torpor e o início do terrível sobressalto. O terrorismo, de diversas origens, invadiu o mundo e as vidas passaram a ser diferentes. A Europa assumiu o papel de continente martirizado, defendendo-se com todos os meios à sua disposição, muitos deles vindos dos Estados Unidos que, passando pelo mesmo drama, mais cedo intensificou enormes medidas cautelares. Dessa forma começou uma nova guerra, não convencional, sem trincheiras nem fronteiras e todas as sociedades foram afetadas. Viajar, andar de avião, frequentar locais com grandes multidões, tudo isso passou a ser a condenação das mais recentes gerações. Sim, estamos em guerra. Há muito tempo. E só  mais recentemente interiorizáramos essa realidade.

Como de costume, os europeus têm vindo a assumir, com grande pesar, as terríveis realidades que os assolaram. Muitos dizem viver num continente flagelado. Embora não possamos esquecer ou ignorar a presente realidade é bom que façamos uma leitura mais ampla e generalizada da situação.

Reportemo-nos apenas às estatísticas do ano de 2017. Já se verificaram, só este ano, 388 atentados em 52 países diferentes com 3205 vítimas fatais. Segundo os mesmo estudos 276 desses atentados tiveram por base o fundamentalismo islâmico, 43 por ideologias antiestatais, 17 resultantes de separatismos, 43 por factores desconhecidos e 28 sem classificação.

Este ano já se verificaram 4 atentados em França, 2 na Grã-Bretanha em comparação com os 56 no Iraque. No conjunto de países como Afeganistão, Síria, Somália, Nigéria, Paquistão e Egito verificaram-se 52% dos ataques materializamos com 82% de mortes verificadas.

Por continente, os números de ataques são os seguintes: Ásia 239, África 109, América 22 e Europa 18.  E já em 2017 os números de ataques têm vindo a diminuir, desde 171 em Janeiro até aos 15 deste mês de Maio.

Nada disto serve para ignorarmos os tempos que vivemos, a guerra em que estamos envolvidos. Pode, no entanto, deduzir-se que os serviços de informações e prevenção têm desempenhado papel relevante. Sobretudo com bom relacionamento internacional e sem bloqueio de informações como, infelizmente, parece ter sido uma ameaça de países fundamentais nesta operação. As estatísticas falam também de um sem número de atentados abortados cuja dimensão nunca se conhecerá com rigor, levando em conta a segurança que essas informações envolvem.

Sim, estamos em guerra. Diferente das do passado mas não menos perigosa. Mas é preciso que a situemos em toda a sua extensão, para não ficarmos indiferentes ao que está mais longe das nossas fronteiras. Só assim poderemos ser mais solidários.

2 pensamentos sobre “Estamos em Guerra?

  1. Um título e um assunto, que nos faz pensar ! Seríamos levianos, se não nos preocupássemos. De facto, penso que estamos todos envolvidos numa guerra, que também é nossa. Uma guerra civilizacional, que traiçoeiramente nos pode apunhalar pelas costas. Uma guerra, sem Black Outs, sem trincheiras nem fronteiras, como diz no artigo, usurpando a liberdade de circularmos livremente, sem outra preocupação que não seja a de tentarmos viver felizes e cumprirmos o nosso ciclo de vida. Ainda ontem, em Coimbra, nos juntámos a umas largas centenas de famílias, felizes pelo fim de curso de filhos e netos, reunidos no largo da Sé Nova, a assistir à missa celebrada pelo bispo de Coimbra, na tradicional Bênção das Pastas. Uma festa, tão bonita como de pacífica, que de qualquer modo, poderia ser perturbada por um qualquer fanático suicida. Esse receio, acabou por trespassar o meu cérebro, mesmo que por escassos segundos. De facto, não vivemos em paz ! Apenas, fazemos esforços por nos iludirmos…!

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