Título curioso no último número do Jornal do Algarve (29/06/17): ” Algarve é a região com mais baixo índice de desenvolvimento “. A frase não pode ser inócua na medida em que foi proferida pelo presidente de uma associação algarvia de seu nome União pelo Futuro do Algarve, durante as comemorações do 2° aniversário da referida associação.
A declaração teria menos impacto se o Algarve fosse uma região recentemente descoberta e, portanto, com pouca História no todo nacional. Mas, bem pelo contrário, o Algarve tem uma História riquíssima e, ao longo dessa História, gente de grande mérito. A primeira república foi temporariamente liderada por um algarvio e, posteriormente, muitas figuras notáveis daquela região desempenharam papéis importantes em diversos setores da vida nacional. Até um algarvio distinto, João de Deus, tem o seu túmulo no Panteão Nacional.
Como explicar que, ao longo de todos estes anos, o Algarve ainda não tenha atingido o índice de desenvolvimento relevante que aquela Associação defende? Como já declarei em texto anterior deste blogue, não sou algarvio de nascimento mas reconheço-me como algarvio por afetos. E não me esqueço que continua a existir a famosa 125, mais conhecida pela “rua do Algarve”, a via cujas estatísticas rodoviárias classificam como uma das mais perigosas da Europa. Esta sua fama não foi suficiente para não a qualificar como alternativa válida à Via do Infante e se passasse a pagar dolorosas portagens nesta via rápida. Com todos os inconvenientes daí decorrentes para particulares, turistas e economia local.
Sei também da aventura emocionante que constitui a simples viagem de combóio de um cidadão que saia de Lisboa e pretenda chegar a Monte Gordo ou Vila Real de Sto António. Até Faro a coisa não vai mal mas, a partir daí e após o inefável transbordo, as paragens são mais que muitas, em carruagens incómodas, e o tempo de viagem de Faro a Monte Gordo é praticamente o mesmo que demorou o trajeto Lisboa – Faro. O sotavento algarvio (a zona que vai de Faro até Vila Real) é tratada como o “farwest” dos filmes antigos. Um amigo meu de longa data dizia-me : “Deixa estar assim, é da maneira que não vêm para cá estragar isto”. Dito há muitos anos, faria sentido, mas o problema é que “eles descobriram aquilo”. E hoje, mesmo com as infraestrutas existentes, o sotavento está mais difícil. As Câmaras Municipais lutam com dificuldades gigantescas e algumas associações civis, a cuja criação assisti, desfazem-se ou mantêm-se sem efeitos verificáveis.
Porquê tudo isto? Como dizia uma velha senhora algarvia já há muito anos falecida: “Os algarvios são melhores no corte e costura”. Os tempos passaram, o ditado não será bem assim, mas o certo é que o desenvolvimento e a emancipação do Algarve não têm surgido como seria desejável. O turismo desenvolveu-se muito, a universidade tem vindo a implantar-se e a criar a indispensável mais-valia para a região, a música e todos os tipos de cultura têm marcado posição . Então porquê? As ligações entre a política regional e a central são difíceis e traiçoeiras mas, desculparão os algarvios, é preciso combater mais. A muita gente culta e capaz que nasce e vive no Algarve tem que se fazer ouvir em todos os centros de decisão, tem que se inovar tudo o que possa ser inovado e mostrar ao país e ao mundo o que é e o que existe no Algarve. Já não chega albergar excelentes conferências sobre os mais variados temas, com participação dos mais notáveis peritos. Isso é bom para o turismo mas é preciso passar à ação em todos os domínios do saber. Em toda a parte, claro, mas no Algarve também.
Um responsável dizer que o Algarve tem um baixo índice de desenvolvimento, tendo a Associação a que preside o objetivo central de estimular e bater-se pelo desenvolvimento da sua região, é um sintoma preocupante. E todas as outras associações que também existem com os mesmos objetivos que têm a dizer?
Por tudo o que conheço do Algarve e dos algarvios parece-me sobrarem condições humanas e materiais para fazer do Algarve uma das regiões com maior desenvolvimento em todo o mundo. Para isso seria indispensável que os algarvios se entendessem entre si, coordenassem as suas atividades, programassem planos de ação ambiciosos e exequíveis e fizessem valer a sua força e a sua genialidade junto de todas as áreas de decisão, nacionais e internacionais.
Rejeitar, definitivamente, a velha alegoria de que os algarvios são melhores no corte e costura.
Força sotavento, força Algarve!
Peço desculpa, ao nosso anfitrião deste Blog, pela minha ousadia de ocupar mais umas linhas, sobre o Algarve….! Este Algarve, e o outro anterior, que gostaríamos de ter visto levantar ferro, com um outro rumo, bem mais merecido. A galinha dos ovos de ouro, ( pelo facto de se terem cometido os erros de desenvolvimento que todos nós conhecemos ) não deixa de continuar a ser uma galinha poedeira de ovos fabulosos. Só que a classe de ovos, não tem passado do M, ( Eu sei disto, porque como vou muitas vezes fazer compras ao Supermercado , aprendi a escolher os tamanhos, pelos códigos internacionais, entre o P, o M, o L, e o GL ). É certo, que, em certas zonas do Litoral Algarvio a letra G, seja a mais adequada. Mas no Sotavento, aquele ” nosso ” Sotavento, predomina muitas vezes a letra M, como já o referi, em épocas normais do ano. E o P, em épocas bem mais aquecidas deste nosso hemisfério. E a culpa desta sopa de letras, tem a haver com a loucura do bota abaixo e toca a construir sem PDM devidamente estudado e estruturado. Talvez o All-garve, o exigisse, sem mais delongas. O que é preciso, é facturar ! E a política dos contentores em betão, a fazer concorrência com os depósitos de contentores do porto de Lisboa, foi um ápice…! Poucos edifícios com garagem própria para os seus condóminos, parques de estacionamento usurpados aos residentes de 1º e 2º grau. Estacionamento nas ruas de Monte Gordo, a pagar de 15 de Junho a 15 de Setembro, apenas com um pequeno favor aos residentes, e o desaforo de ter que andar a retirar garrafões de água dos passeios, para poisar a viatura, como se se tratasse de um Drone, já sem bateria para continuar a voar. E depois, o sentirmos-nos constrangidos a ficar na zona de residência, alguns dias a fio, sem ter vontade de retirar o carro daquele lugar, alcançado num golpe de sorte, sem a certeza de arranjar um outro, no regresso. E no final, a danação de ter que nos vergarmos à obrigatoriedade de guardar o carro no parque, a pagar um balúrdio por cada semana, apenas com a vantagem de haver sempre um lugar à disposição. Mas aqui, tudo bem, desde que os pequenos orçamentos de férias, o consinta.! E o Far-West do Sotavento algarvio, sobrevive às avalanches, não podendo dar melhor acolhimento a quem o procura, por erros do passado, agravados pelo presente, sem vermos melhoras numa N. 125, de Tavira a Monte Gordo, cada vez mais doente, e na estrada para Castro Marim, já sem bermas para ciclistas, obrigando-os a disputar o asfalto com os camiões que passam, em ambos os sentidos …! Bom ! Esta coisa de falar de férias, em tempo de férias, cansa um pouco a molécula…!
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Muito bem. Realmente os algarvios são mais para “corte e costura”. Mas boa gente!…
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Há muitos anos, e já lá vão cerca de 56 longos anos, falar-se do Algarve, para mim, era uma aventura…! Ter que atravessar o Alentejo e descrever aquelas 365 curvas do Caldeirão, era uma canseira, que comecei a aceitar, sempre com o desejo incontido, de me ver a aproximar daquele mar calmo e azul de Tavira…! Aquela vida, sem pressas, sob um Sol escaldante, transmitia-me a ideia de que tudo se poderia fazer com correrias. Correrias desnecessárias, porque tudo estava ali à mão…! E de facto, era verdade. Pela manhã, ainda fresca, o mercado, com as vendedeiras a oferecer os seus produtos saídos da sua horta. O sector do peixe, usualmente mais barulhento, com os pregões a chamar a atenção para o o pescado ainda a saltar na banca de pedra. Coisa que já nos tínhamos desabituado de ver em Lisboa. Passado esse início de dia, era a vez de apanharmos o barco do Pilar, para a ilha, sentindo a brisa fresca do mar, a convidar-nos para um mergulho imediato, naquele mar chão, de águas tão aquecidas, como de transparentes. Eram águas trazidas pelo levante, diziam…! No regresso a casa, para almoço, ainda dava tempo para nos sentarmos numa esplanada, a refrescarmo-nos à volta de uma Imperial fresca, que de imediato, nos fazia sentir ainda mais acalorados. Era o Verão, com gente que se cruzava calmamente, procurando as sombras, parando para se cumprimentar e conversar. Parecia-me que todos se conheciam do mesmo sítio. Apenas eu, não era conhecido, nem conhecia ninguém ! E era aquele Algarve, que comecei a gostar e a sentir-me um pouco mais algarvio…! Tudo isto, são as recordações doces, daquela terra que cheirava a mar e a alfarroba, e me cativou. Confronto constantemente com o actual, nos meses de Julho e Agosto ! Sinceramente, não sei em qual Algarve me devo posicionar. E aqui tenho que meter Monte Gordo na lista do meu descontentamento. Sei, que não é este Algarve, o dos festivais, com o ribombar dos foguetes e fogos de artifício, e os festivais de música avulso, com ou sem índios a tocar flauta inca, bancas de feira, a oferecer artesanato indígena, misturados com carrocéis barulhentos, a anunciar mais uma viagem l Sinceramente, já não sei qual destes Algarves é o Far-West…! Se aquele, que se deixava ficar, sem se mexer em nada, para não ser estragado, ou se este, onde não temos um lugar para estacionar o carro, onde nos acotovelamos para poder estender a toalha de banho na areia, o apanhar com uma bola na cabeça, ou o sacudir da areia, da toalha da vizinha do toldo do lado e os fumos do cigarro do vizinho do outro lado, que não para de ler, de perto, as letras gordas do nosso jornal, e que usualmente não dá os bons dias a ninguém…! É o Algarve actual, com a oferta viciada nas multidões, que se atropelam nos meses mais quentes, desgastando a paciência de quem o procura para recobrar forças para mais um ano de trabalho. Eu, pessoalmente, continuo a gostar e a preferir o Algarve. Apenas me refugio, de vez em quando, num repousante Campo de Golfe, mesmo que seja só a bater bolas, retemperando as forças para outra ida à praia, na manhã seguinte para mais uns de banhos de mar…! O carro ? Bem, o carro fica normalmente nos antípodas, num sítio, onde com um pouco de sorte, arranjo um lugar que acabo sempre por me esquecer onde ficou…!
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