Vale a pena ler e meditar sobre os conteúdos da revista “Foreign Affairs”, na sua edição de maio/junho 2018, onde aborda , de forma muito abrangente, as questões relacionadas com a vitalidade da democracia em todo o mundo. E interroga: “A Democracia está a morrer?” E de forma desassombrada enuncia algumas das principais razões para a reconhecida regressão democrática no mundo: a centralização do poder executivo, a politização judiciária, os ataques à independência dos “media”, o uso do poder público em benefício próprio. Curiosa a consideração de um jornalista latino-americano ao dizer: “Já temos visto este filme antes, mas nunca em inglês”.
Juntam-se aos habituais articulistas desta revista quatro contributos de convidados particularmente experientes nas alargadas discussões sobre este tema, nos diferentes domínios da suas atividades. Começamos por YuenYuen Ang, cientista política e professora na Universidade de Michigan. O seu artigo foca principalmente um paradoxo: “Poderá um país sem uma boa governação conseguir rapidamente um relevante crescimento económico?” Ganhou um prémio em 2016 com o seu livro “Como escapou a China à Armadilha da Pobreza?” e pergunta por quanto tempo conseguirá, uma China cada vez mais rica, resistir às pressões da democratização.
Segue-se o búlgaro Ivan Krastev (nascido no tempo da Bulgária regida pelo sistema comunista) , considerado atualmente uma autoridade na transição pós-comunista da Europa de leste. Sendo presentemente Presidente do Centro de Estratégias Liberais, em Sofia, discorre, num artigo a que chama de “Revolução Iliberal da Europa de Leste”, que governos autocráticos como os da Hungria ou Polónia, e outros, dão-nos uma ideia como o autoritarismo pode entrar no ocidente. Krastev deu, aliás, uma interessante entrevista no Diário de Notícias, na semana passada, onde expõe, com clareza, a naturalidade com que estes riscos podem percorrer a Europa.
Também Bill Gates nos dá pistas para anular as desiguldades no mundo e, dessa forma, manter viva uma democracia mais rigorosa e mais séria. Em 2008, 33 anos depois de criar a Microsoft, passou a dedicar todo o seu tempo à Fundação Bill & Melinda Gates que já distribuiu, desde 2000, verbas da ordem dos 40 biliões de dólares. Esse dinheiro tem sido utilizado numa vasta gama de programas de educação, desenvolvimento global e saúde pública. Gates explica que através da manipulação genética desenvolvida em modernas bases científicas se poderá ir criando a mentalidade do Bem e, dessa forma, transformar a luta global contra a pobreza e a doença.
O artigo de Caroline Bettinger-López é também um excelente contributo para este tema. Além de advogada de Direitos Humanos, Carolina foi , de 2015 a 2017, conselheira na Casa Branca para assuntos de violência contra as mulheres, dando agora aulas na Universidade de Direito de Miami. É defensora dos movimentos ativistas globais e que, com esses processos, abertos e próximos das pessoas , se poderá ser otimista na defesa da democracia para o futuro.
De acordo com Gideon Rose os maiores perigos para as lideranças democráticas são mais de natureza interna que externa. Os momentos, os meios e as oportunidades para transformar as tendências existem, estão lá. O que falta muitas vezes é a vontade política e a liderança.
E relembra, com algum humor e curiosidade, a pergunta de uma senhora a Benjamin Franklin à saída da Convenção Constitucional em 1787: “Doutor, que temos afinal, uma república ou uma monarquia?.” Franklin respondeu-lhe: “Uma república, se a conseguirem manter.” Cerca de 230 anos depois parece que as coisas não se alteraram muito.
A nossa curta experiência de democracia, tem vindo a demonstrar que ela morre um pouco todos os dias, apesar de ela se renovar continuamente, pelas vozes mais sábias e conscientes dos que a entendem e a desejam. No entanto, vai-se criando um déficite, pela saturação dos ideais, nem sempre adaptáveis à personalidade e fragilidade intelectual do povo, sempre tão moldável em novas situações. Tenho ouvido de tudo, baseado na ignorância, no desespero das injustiças do dia a dia, e na cegueira partidária, num Parlamento nem sempre dignificante…! Raramente se fala da Constituição, como baluarte do respeito pela Nação e da dignidade do seu povo…!
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SOU UM OPTIMISTA. A DEMROCRACIA PREVALECERÁ
EM 1940, quantos estados democráticos havia na Europa ? Poucos, que me lembre o Reino Unido., a Suécia e a Finlândia. Todos os outros países europeus ou eram ditaduras ou estavam sob o poder de ditaduras.
E no entanto, com a intervenção dos EUA, do Canadá e outros, a Democracia venceu !
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