Sonhei com um pequeno mundo
Quando era pequeno, como esse mundo.
Era o meu mundo, tudo pequeno,
À distância da mão, à distância de tudo.
Ia até ali, vinha de lá até cá,
Corria entre árvores e arbustos,
De vez em quando caía, mas levantava-me,
Era o meu mundo e isso chegava-me.
Conhecia gente, todos amigos,
No meu mundo não havia inimigos.
Fui crescendo e percebendo que o meu mundo
Não era só aquele. Havia um mundo maior,
Com mais coisas e de certeza muito melhor.
Havia muitas terras e capitais,
Sítios que eu não conhecia, fora do meu mundo.
Fui percebendo que havia mar, e rios,
Fiquei a saber que havia bichos com escamas, outros com penas,
E que as flores tinham pétalas e sépalas de muitas e lindas cores,
E que havia prosas e poemas,
Músicas e danças, desenhos e pinturas,
Deslumbrantes arquiteturas.
Gente que as fazia e que as sonhava.
O meu mundo já não era tão pequeno, já se alargava.
O mar já não era só ali, era maior,
E havia gente, muita gente, por esse mundo fora,
Que vivia como eu, nos seus pequenos mundos,
Julgavam eles, claro! Mas eram felizes.
Até que todos, eles e eu,
Percebemos que o mundo era só um,
Os deles e o meu,
E que vivíamos os nossos sonhos,
Pequenos mas com raizes.
Todos tínhamos árvores, e rios, e montes,
Tínhamos as músicas e as danças, os desenhos e as pinturas.
Afinal, embora tudo maior, éramos todos iguais.
Mas esse tal mundo não era assim,
Parece nunca ter sido assim.
Havia os bons e os maus,
Os que viviam e que comiam,
Os que fugiam e que corriam,
Os que riam e os que choravam,
E quase todos rezavam para que o mundo lhes desse
Aquilo com que brincavam no seu mundo mais pequeno,
Mas mais pleno.
Tudo o que lhes ensinavam seria para o bem do mundo,
Do tal mundo, o grande,
Que lhes daria, sempre, o sorriso e a paz.
Paz com amigos, sem dor, com alegrias,
Sem lágrimas, mesmo furtivas.
Mas não, não foi assim.
O pequeno mundo desabou,
Há fugas todos os dias.
“Se não estou aqui, para onde vou?”
A grande beleza da vida sempre nos disse:
“Estou aqui!”
Mas onde, mas onde?…
Por isso fugi!
Belo poema.
Mas fez-me pensar que nos meus 18-20 anos imaginei que passados 50 anos, o mundo estaria melhor.
Porem, tal só aconteceu no domínio da saúde e das facilidades de transporte e de comunicações ! No que respeita ao humanismo nem por isso ! Por isso temos de continuar a lutar através deste blog ou doutros meios ao nosso alcance.
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Lindíssimo poema…! Um mundo maravilhoso, criado ao sabor do imaginário. Um mundo pequeno que se torna grande. Aquele mundo, em que todos os dias lhe devemos juntar mais uma gota de água, formando um mar que é de todos…!
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