Um artigo da jornalista Kate Connolly traz à tona de água uma engraçada mas melindrosa disputa entre o estado austríaco e um significativo número de cidadãos que reclamam a possibilidade de usarem, nos seus nomes, a partícula von, facto que, segundo eles, os castram histórica e familiarmente.
Desde 1919 que a Áustria proibiu o uso da partícula von nos nomes, alegando que tal atitude contribuiria para o princípio da igualdade e eliminação de privilégios de famílias nobres, depois da queda da monarquia em 1918.
Esta coisa do von é o que corresponde, mais ou menos, ao nosso de ou da, entre apelidos. E logo eu, que sou Marques da Silva!… Tudo começou com a pretensão de um veterinário suiço, Niklaus von Steiger, que pretende que a sua noiva austríaca, Christel Troll, possa adotar o nome, depois do casamento, de Christel Troll von Steiger. Mas o estado austríaco recusou o pedido e o veterinário desencadeou uma ação em tribunal, para a qual conseguiu a adesão de cerca de 50 pessoas (nobres, advogados e simpatizantes) que reclamam o mesmo direito (das cerca de 2000 que, sendo austríacas, também poderiam usar a mesma partícula). A Família Von Trapp, da famosíssima Música no Coração, viu tolerado o seu nome até à altura em que mudaram de nacionalidade e passaporte. Mas parece que nunca estiveram de acordo com essa lei. Para não falar no maestro austríaco Herbert von Karajan, nascido em Salzburgo, em 1908, e que declarou que nunca regeria orquestras na Áustria se o seu nome não fosse completamente reconhecido. E foi.
A Alemanha debateu-se com o mesmo problema, após a 1º guerra mundial, mas declarou que os nomes da sua nobreza se manteriam, retirando-lhes, no entanto, qualquer privilégio específico. No ano passado um cidadão com a dupla nacionalidade alemã e austríaca, Niklas von Beringe, perdeu o processo que havia posto em tribunal contra o estado austríaco, depois de ter alegado que o nome da sua família tinha origem em 1782. Renunciou à cidadania austríaca declarando que a decisão do tribunal era “um ataque insuportável à sua integridade pessoal”.
Não há dúvida que a Áustria tem em mãos um problema de grande sensibilidade que, não sendo maioritário, talvez recolha alguma simpatia dos seus atuais governantes. Ainda bem que, entre nós, este problema não se põe. Senão, seria mais uma caso de debate para uma comissão parlamentar em que as “esquerdas encostadas”, como lhes chamam “as direitas encostadas”, teriam matéria para largas dissertações com imenso interesse, como se pode imaginar… Deixemos viver, tranquilamente, a nossa nobreza e eu cá vou andando com o da no meu apelido…
Não conhecia esta particularidade dos “von”. Que é bem elucidativo dos tempos que correm em que se procura tudo para nos diferenciarmos uns os outros nesta Europa que se desejaria unidos. Os nacionalismos estão aí…
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Um assunto não muito discutido entre nós, mas que não deixa de ser divertido…! A dança do de e do da, tem entre nós, qualquer coisa de muito especial. Até em certos insultos se usa invariavelmente o de e o da…! Não sendo a nossa população, maioritariamente monárquica, somos peculiarmente zelosos dos nossos nomes familiares. E eu, pessoalmente, detentor de um de, como se fosse um von da Alemanha ou von da Austria de Francisco José e da Sissi, ou ainda um van da Holanda, sempre me apresentei, por escrito, com um destes des. Supõe-se vir lá das alturas, onde se situa o castelo de Frias, a poucos quilómetros de Burgos…! Vejam bem, de onde sou originário…! Um castelo, cidadela, insignificantemente pequeno, encrostado numas rochas ponte-agudas, apontadas para o céu, como que um pára-raios, a querer defender-se de algo vindo lá de cima. Recordo, um dia, em que por curiosidade, me desloquei a esta pequena vila e em conversa com alguns pseudo-conterrâneos, nos fartámos de rir, quando me intitulei senhor herdeiro daquelas ruelas, acabando por beber mais um copo para a despedida, com um hasta siempre…! O mais curioso, é que me assino com um de, apesar de muitos funcionários públicos, terem entendido, por sua alta recreação, eliminar esta preposição gramatical, ao renovarem o Bilhete de Identidade…! Com estas omissões, parece-me que já não sou de lado nenhum…!
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