Carlos Acosta, o bailarino clássico cubano, considerado um dos maiores bailarinos de todos os tempos, será o responsável, a partir de Julho deste ano, do Birmingham Royal Ballet. É para ele, claro, uma honra tremenda e um privilégio conduzir uma das companhias de ballet mais famosas do Reino Unido e do mundo. Ele, que nasceu paupérrimo nos subúrbios de Habana, mas que teve a sorte imensa de o pai, modesto condutor de camiões , ter estimulado e apoiado o que percebeu ser o talento irreversível do mais novo dos seus onze filhos. Conseguiu inscrevê-lo na Escola do Ballet Nacional de Cuba para poder construir a sua carreira nas maiores companhias do mundo, tendo comemorado os seus inigualáveis 30 anos de bailado, em Outubro passado, com uma deslumbrante exibição no London’s Royal Albert Hall.
É um privilégio para ele e para todos os que o têm podido acompanhar nos seus espetáculos. Não é o meu caso. Apenas o fui vendo, esporadicamente, em transmissões televisivas ou no inefável YouTube, admirando, no entanto, o seu virtuosismo. O ballet clássico já teve melhores dias no nosso país. Após um declínio acentuado há cerca de duas décadas, têm aparecido, mais recentemente, escolas e academias, por todo o país, que têm conseguido mostrar ao mundo que também cá temos jovens apaixonados por uma arte tão exigente e difícil, conseguindo resultados notáveis em diversas competições internacionais.
Tudo isto me fez recordar uma ida inesquecível para o “galinheiro” do S. Carlos, em 1968, para ver a “Giselle” dançada por Rudolf Nureyev e Margot Fonteyn. Bilhetes mais baratos, claro, mas, mesmo assim difíceis de arranjar. Foi um espetáculo fantástico que massajou o meu gosto pelo ballet que sempre gostei de acompanhar na TV mas, como se percebe, raramente ao vivo. Pior foi quando a Gulbenkian acabou com essa “despesa”. Também tirei partido deste “élan” e fui consultar uma obra que há muitos anos não folheava: “História e Dança do Ballet Moderno” e o “Dicionário do Ballet Moderno” , publicados em 1962 pela editora Artis. Trata-se de duas obras complementares da autoria do historiador espanhol de música, Adolfo Salazar (de seu nome completo Adolfo Salazar Ruiz de Palacios, para atenuar os desagradáveis relacionamentos com outros personagens…). A obra original foi publicada no México, em 1949, com o título “La Danza y el Ballet”. Toda a parte da versão portuguesa, principalmente em tudo o que se relaciona com o ballet em Portugal, é da autoria de Tomaz Ribas (já agora, de seu nome completo, Tomaz Emídio Leopoldo de Carvalho Cavalcanti de Albuquerque Schiappa Pectra Sousa Ribas… Para não ficarmos atrás do outro, porque este é português e alentejano de Alcáçovas). Tomaz Ribas, além de escritor, jornalista e etnógrafo tirou no Conservatório Nacional o curso especial de Dança e Coreografia. Foi professor no Teatro Nacional de S. Carlos e, de 1977 a 1986, foi Delegado no Algarve da Secretaria de Estado da Cultura. Faleceu em Lisboa, em 1999.
O folhear deste livros touxe-me à memória os nomes famosos, para além dos dois de que já falei, de Mikhail Baryshinikov, Galina Ulanova, Serge Lifar, Twyala Tharp. Voltei a lembrar-me dos arabescos, do pas de chat, do pas de sissone, do Corsário (baseado na obra de Lord Byron), nos Casse Noisette, Lago dos Cisnes, Pássaro de Fogo ou Silfides.
Mas talvez o que mais me animou foi poder relembar os nomes do bailado clássico português, como Olga Roriz, o jovem de 24 anos Marcelino Sambé, Jorge Salavisa e Paulo Pereira que, além de bailarino e coreógrafo, foi diretor do Teatro Viriato em Viseu e é, agora, Diretor da Companhia Nacional de Bailado.
Imaginem o que Carlos Acosta me fez lembrar… Ele começou, pobre, em Cuba. Os muitos jovens portugueses talentosos para esta arte que por aí pululam, talvez tenham melhores apoios entre nós, agora que o Diretor da Companhia Nacional é um deles, um que pensa como eles. O ballet merece.
Não esqueçamos o que disse André Gide: “A arte nasce de constrangimentos, vive de luta e morre de liberdade “.
Eu e a minha Mulher fomos durante muitos anos assinantes dos espectáculos da Companhia da Gulbenkian, a começar no tempo em que ainda se chamava Grupo Gulbenkian de Bailado e actuava no Politeama. Ainda me lembro de uma bailarina, num dado bailado, ter escorregado e caído durante a actuação. Levantou-se logo com ar atrapalhado e foi acarinhada pelo público com um aplauso
Confesso que hoje em dia já não me interessa tanto como me entusiasmou no passado, mas ainda vejo transmissões no Canal de TV Mezzo
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Foi com muito gosto e interesse, que li este texto, O Ballet, um expoente de beleza e de subtil arte, que nos enche o peito de satisfação. Uma arte, que entre nós, tem sido levada pelas oscilações de uma sociedade confusa, mais entusiasmada pelos ânimos da actualidade, do que pelo gosto intrínseco, cada vez menos habituado a espectáculos desta natureza. Quero recordar, uma senhora, ainda refugiada da guerra, madame Ruth Anzvin, ( creio que é assim que se escreve ), que durante tantos anos, ensinou centenas de jovens, em várias escolas e no Lisboa Ginásio Clube. Uma senhora, já de idade, sempre muito activa e profissional, de uma amabilidade tão ligada à sua cultura. Desconheço, se dali, saíram algumas figuras de maior destaque. Apenas verificava, com gosto, a elegância de movimentos e de comportamento, que aquela dança emprestava às jovens…! Também, a Gulbenkian, já mais tarde, veio dar o grande impulso, que todos nós conhecemos, e que se tem mantido até aos nossos dias…! Ainda, o espectáculo ” As Noites de Verão “, nos jardins do Palácio de Queluz, que deliciaram tantos apreciadores, onde em melhores tempos, me foi possível assistir, à graciosidade de Zizi Jeanmaire e Roland Petit …! Sei, que para este ano, neste mesmo festival, quatro companhias de ballet, vão deliciar muito mais pessoas…! Assim, haja bilhetes acessíveis para todos…!
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