Os índigenas brasileiros são, desde há milhares de anos, como é sabido, os primeiros habitantes daquele vastíssimo território. Quando em 1500 Pedro Álvares Cabral lá chegou eles eram cerca de 5 milhões. Na região da Baía, onde aportou, encontrou-se com um Grupo Tupi e as primeiras relações, segundo as descrições históricas, parece não terem corrido mal. Mas, na realidade, havia, e ainda hoje são considerados, 690 territórios indígenas em mais de 13% do território brasileiro. Os tempos e as vicissitudes da história não têm sido benéficos para os primeiros nativos do país. Como, aliás, tem acontecido em muitos outros locais do mundo nos quais se tenta, às vezes de forma pouco harmoniosa, preservar essas populações na sua permanente luta contra a modernização da humanidade.
Mas falemos agora apenas do Brasil. Restam hoje, segundo as estatísticas oficiais, apenas cerca de 900.000 índígenas , 0,47% da população brasileira, oriundos das 10 principais tribos, resultantes das centenas que existiam nos tempos de Cabral. O problema dos índios do Brasil não é apenas o da modernidade da vida. Bem pelo contrário, resulta da ferocidade e da especulação brutal da vida que os tem, aos poucos, confinado e dizimado com conhecimento geral dos poderes governantes.
Corre agora, entre nós e pelo mundo inteiro, um apelo lançado por Sebastião Salgado no sentido de pedir ao governo brasileiro atual que impeça os desmandos que fazendeiros, madeireiros e outros invasores ilegais da Amazónia (principal zona de vida dos índios) têm vindo a praticar, de forma desordenada, no território. Para nos situarmos um pouco melhor perguntemos quem é Sebastião Salgado. O mundo conhece-o mas, já agora, podemos recordar que Sebastião Salgado é o mais renomado fotógrafo brasileiro, vivendo em França há muitos anos. Licenciou-se em Economia na Universidade Federal do Espírito Santo e fez a pós-graduação na Universidade de S. Paulo. Estudou arquitetura em Paris mas dedicou toda a sua vida à fotografia, com fotos sempre a preto e branco. Trabalhou para a UNICEF, para a ACNUR, para a OMS, Médicos Sem Fronteiras e Amnistia Internacional. Ocupa, desde 2017, uma das quatro cadeiras da Academia de Belas Artes de França. Já ganhou 16 prémios internacionais e publicou 12 obras sobre as suas campanhas fotográficas por todo o mundo. Pois é este homem que lança agora um apelo mundial, num vídeo que muitos de nós já teremos recebido, para que se subscreva um grito de alerta às autoridades brasileiras para que parem os incêndios na floresta amazónica, para que cessem os cortes inomináveis da floresta e que, sobretudo, se poupem as vidas dos indígenas que, apesar de terem já sobrevivido a muitas pandemias , não têm tido, da parte do governo do país onde sempre viveram, o menor apoio clínico ou social contra a pandemia que todos estamos a viver. Há já muitas centenas de personalidades mundiais que têm aderido a este apelo. Personalidades bem conhecidas e com responsabilidades em muitos setores da vida. Também qualquer de nós pode assinar esse documento de apelo embora, sejamos claros, ninguém acredite que o atual Presidente do Brasil se preocupe minimamente com este grito mundial. Sim, porque não podemos esquecer que ele foi eleito com o apoio declarado e muito forte de evangélicos, coronéis madeireiros e fabricantes de armas. A Humanidade para essa gente contabiliza-se em poder, dinheiro e desprezo pela História. Será que haverá, no futuro, algum governante brasileiro que ponha cobro a esta dizimação em massa?
Não sabemos, mas não temos dúvida que o apelo de Sebastião Salgado será ouvido e terá continuidade em lutas futuras. “Só é derrotado quem pára de lutar”, frase dita por um português a quem já muito mundo deu razão.
Muito bem. E não devemos esquecer o nosso Padre António Vieira, grande defensor dos índios brasileiros ao tempo ameaçados de escravidão
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