Tem lugar, de 11 a 15 de Outubro, a Feira Internacional do Livro de Frankfurt. É um evento importante para todo o mundo da escrita que se debate, desde há décadas, com o anunciado flagelo do digital. Não há muito, dizia-se que o livro em papel acabaria ou ficaria numa dimensão desprezável. Os editores, escritores, profissionais ligados ao setor iniciaram uma luta de renovação, de agilidade editorial, os autores não viram diminuir os seus proventos, os seus direitos, a divulgação das suas obras. O número de títulos que encontramos nas livrarias ou feiras da especialidade aumentou dramaticamente. As edições são mais pequenas para as obras dos ainda não celebrados, mas continuam a ser muito importantes para os autores com maior divulgação mundial. Embora haja muita obra disponível nos meios digitais (de consulta bastante cómoda, reconheçamos) o “papel” ainda não foi vencido. Os especialistas dizem que esse “perfume” nunca terminará mas, aqui, acho que é preciso ter cuidado com o radicalismo da afirmação. O futuro, esse desconhecido, muitas vezes nos surpreende.
Sou, como talvez já se tenha percebido, um defensor intransigente do “papel” mas é provável que isso tenha a ver com a minha geração. Vejo, no entanto, muitos jovens (e acreditem que convivo com muitos) a comprarem livros e a folheá-los sofregamente, como eu fazia na idade deles. E isso consola-me. Desculpem-me, mas o livro de papel tem realmente o seu perfume próprio, pode ser riscado e anotado, dobrado e, imagine-se, guardado na estante. Os amantes do digital dirão de imediato que sou antiquado, porque no “tablet” eles têm lá isso tudo, em muito maior quantidade. É verdade mas, como dizia não há muito tempo um escritor famoso, “no “tablet” posso ter milhares de fotos de meninas lindas mas, como com o livro, não lhes posso tocar”! Enfim, são correntes de opinião, não levem a mal.
O país convidado de honra deste ano em Frankfurt é a França. O mundo literário francês. riquíssimo como se sabe, está lá todo. E as editoras negoceiam e querem vender. Como diz a francesa Florence Maletrez: “Se um romance já teve um prémio literário, vende-se em toda a parte”. Estas feiras são, realmente, palco das maiores contendas mundiais nas vendas de direitos de autor e de edições traduzidas. Os americanos lançaram há anos um novo procedimento a que chamaram “Pitch”, para abreviarem e garantirem a compra dos direitos: um resumo de 50 páginas do livro em apreço, sempre em americano. Há também as grandes editoras mundiais que nem sequer se interrogam, confiam-se e compram. E há as tradições: se um romance é comprado na Alemanha, interessa aos escandinavos.
A feira conta com um total de 278.000 visitantes, dos quais 140.000 profissionais.
Portugal está presente na Feira com cerca de 50 editoras. O êxito tem sido muito ao longo dos anos. Três escritores portugueses estão presentes e vão falar sobre temas nossos: Rui Cardoso Martins e Patrícia Portela vão dissertar sobre “Ler e Ver Lisboa”, enquanto que o poeta Fernando Pinto do Amaral apresentará uma antologia poética designada por “Às vezes São Precisas Rimas Destas”.
Por falar de poesia e de Lisboa não resisto a transcrever um poema de um poeta português, José Carlos Gonzalez, meu colega de liceu, falecido em França no ano 2000, poema a que chamou
ELEVADOR DO LAVRA
Íngreme iníqua
Com pedregulhos quadrados
Lomba dos sete costados
Faculdades, necrotérios
exactamente ao contrário
Das flores nos cemitérios
No alto do grande esforço
dos guinchos e cabrestantes
só faltam saltos de corço.
Torel, Touril, touros mansos
a bramir na vã colina.
Mártires da Pátria, gansos
grasnam a dor matutina.
Este texto não pode deixar de servir para desejar a todos os editores e autores portugueses os maiores sucessos. É uma missão difícil, trabalhosa mas é por aí que se caminha num dos vetores mais importantes da cultura mundial.
Por favor, leiam, mesmo que seja em digital.
É verdade, que o livro esconde qualquer coisa que nos atrai. Pelo folhear calmo, que nos dispensa todas as atenções e nos sacia a curiosidade do seu saber, quando se trata de livros profissionais, ou de suas histórias mais ou menos romanceadas e nos deliciam por muitas horas de leitura. Pelo seu cheiro característico de novo e das nuances ganhas pelo tempo, arrecadado numa estante, tão distantes dos clicks do Digital. De histórias, de aventuras, que arrumamos na mala de viagem, junto da roupa, pronto a fazer-se num bom companheiro para qualquer lugar, sem nos exigir qualquer outro cuidado.
Mas aquele diabrete, com um manancial de conhecimentos, apenas sujeito a um golpe ( clik ), um código, aguarde uns momentos, e já está ! Com o mundo sob os nossos dedos, e a setinha irrequieta do ” mouse ” a encaminhar-nos para um mundo global, que nunca nos passou pela imaginação…!?
A verdade, é que os livros são amados e fazem parte do nosso património cultural, desde pequenos em que começámos a juntar as letras pretas e cinzentas do livro da cartilha de João de Deus ( poderei estar errado, mas penso que eram assim, em letra de jornal, como se dizia antigamente. ), até aos dias de hoje, com mais ou menos desenvolvimento intelectual…! Ainda hoje, me enchi de curiosidade sobre um autor português, Gabriel Magalhães, escritor e professor de cultura e língua espanhola, da Universidade da Beira Interior, apaixonado sobre a vida de Espanha e Catalunha, agora tão propalada pela comunicação social, de forma tão explosiva como de inconcludente. E aqui está um exemplo dos nossos dias, em como podemos procurar nas livrarias ou procurar naquele interminável manancial de informação da Internet, embora nem sempre assim tão segura…!
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